sentimentos

Apareceste assim,
Apegaste-te a mim,
E eu a ti sem receio.

Desculpa se te odiei,
Raramente pensei,
Em te ter como tenho.

Nunca entendi,
Nem pouco percebi,
Como tu actuavas.
Mas mesmo em vão,
Assim sem razão,
Somente adoravas.
Conseguia-te detestar,
Chorar e pensar,
O que me importavas.
Não conseguia entender,
Como irritante ser,
Sentimentos causavas.

Talvez foi simetria,
Uma singela harmonia,
Que equilibrava a desigualdade.

Pois eu sempre vi,
Achei e senti,
O que ias ser para mim.
Embora tudo o que aconteceu,
Nunca deixaras de ser meu,
E eu tua melhor, até ao fim.

Dedicado a: Eurico Gomes

esmola

Hoje descobri que não se deve dar sempre esmola.
Devemos esperar que todos se ergam sozinhos,
Mesmo que a espera seja eterna
Vai ser valorizada um dia.
Hoje descobri que não vale a pena tentar afirmar,
Ou ter razão,
Quando não nos ouvem.
E por muito que estejamos certos,
Não devemos corrigir quem erra,
Deixaremos sempre uma opção.
Para se levantarem do chão.

Dedicado a: Joana Moleta

colmeia

Juventude, para onde queres ir?
Qual o caminho que escolhes para seguir?
Sigo contigo ou o atalho é à toa?
Não me deixo levar no ar, gosto de navegar à minha proa.
Sou a banalização de se ser excentricamente original
E a complexidade de se ser meramente banal.
Detesto esta sociedade que nos educa a ser normais,
Proíbe e impõe, até nos tornarmos canibais.
E para veres que não minto e sou como tal
Afasto-me da maioria, que me rodeia, numa colmeia oval.
Vejo isso sim, abelhas, todas com o mesmo fardamento,
Que fazem as mesmas coisas, obedecem às mesmas ordens,
Vivem literalmente com a cabeça ao vento.
Tu, que apanhas do ar todas as referencias,
Tens medo de te afirmar e de cometeres informais imprudências.
Não tentas passar muito tempo fora sem ter de pedir uma autorização
Não arriscas a ser diferente, a ter o futuro na tua mão.
Não distingues a verdadeira violeta da plastificada rosa
Até preferes esse moderno material, com a desculpa de ser mais charmosa.
Vives em pólen poluído, mas não fazes nada para o salvar.
Se por um lado queres voar para longe, porque não alto voar?
No fundo não passas disso mesmo, de uma colmeia obedecida.
Colmeia que passa de geração em geração, igual à anterior e até talvez mais vencida.
Por vezes distingues-te da sociedade, ao mostrares mais ambição…
Mas no fim não vale de nada, pois não arredas os pés do chão.

Dedicado a: Brazes de Portugal

contornar

Fugir? Palavra forte.
Talvez apenas queira contornar o meu caminho.
Partiste com o que “partiste”.
Deste forças para desistir do que não existia.
Num segundo, mil horas tornaram-se zero.
Simplesmente sinto-me mal ao te ver passar.
Sinto vergonha de mim própria, por ter me deixado tocar.
Baixo a cabeça, desvio o olhar.
Máscaras de Carnaval que se encaixam no memorial.
E deixam marcas para um futuro.
Não influencia mas bate forte.
Ao pensar que me marcaram até à morte.
Sinto-me fria e ao mesmo tempo quente.
Por saber ficar viva, quando chega o ultimo parágrafo.
Dás-me razões para te odiar e eu dou-te para eu desaparecer.
Não tenho intenções de aí ficar.
Espero apenas que não tentes reviver.
Talvez até seja simplesmente medo.
Mas não ando, nunca mais, no teu caminho.
Hei-de contorna-lo para quase sempre.
Até que resolvas o destino.
Não te quero mal, desejo que tentes mudar.
E aprendas, que com os erros é para se ensinar.
E não para continuar.

Dedicado a: Bruno Polónio

vinte respostas

Quem sou eu?
Tenho um nome, uma idade e um destino;
Tenho uma alma aparentemente revivida e um corpo que se adequa a cada situação…

Quem sou eu?
Se o mundo está feito de “Eus” sou mais um;
Que se auto-cria e reconstrói todos os dias da vida…

Quem sou eu?
Sou a resposta ao “Quem és tu?”;
Que responde a esta simples questão, apenas sem razão...

Quem sou eu?
Sou a mistura de emoções e sentimentos que crio ao “tu”;
E que se consequentemente, este desaparecer, desapareço também em vão…

Quem sou eu?
Imaginação, criatividade e inteligência;
Roubo da cultura parte da criação e peço à alma para me completar a acção…

Quem sou eu?
Chamam-me ser evidentemente vivo num mundo real;
Mas que sonha tão profundamente que a realidade permanece adormecida…

Quem sou eu?
Algo que acompanha o movimento desta sociedade imparável;
Algo que nunca é estático na vida, algo que dá conta de como a vida é pequena…

Quem sou eu?
Tenho ossos, músculos e pele, que me aquecem e protegem o coração;
Máquina mais poderosa do meu corpo, a bomba que, se detona, aniquila o sentido desta questão…

Quem sou eu?
Afirmam que sou habitante do planeta Terra;
Mas quem sabe se não sou unicamente uma célula do universo de escuridão…

Quem sou eu?
Considero-me ninguém, mas consideram-me alguém;
Tirei a conclusão de que só sou realmente ninguém quando deixarem de me considerar como tal… (alguém)

Quem sou eu?
Fingidamente normal, escondida com a emoção;
Sozinha num mundo diverso, perdida entre o que desejo e o que quero…

Quem sou eu?
Desejo paz e solidariedade;
Apanho pedaços de ar para respirar e devolvo-os forçosamente mais puros do que são…

Quem sou eu?
Alguém que conta os segundos da vida;
Alguém que vive cada momento o mais lentamente possível, para não os desperdiçar…

Quem sou eu?
Algo que dizem criado por um Deus;
Mas que no fim acaba por ser exclusivamente criado por si próprio…

Quem sou eu?
Defino-me proprietária de alguns adjectivos;
Adjectivos acabados em “a”, que me engradassem, como suposto e pequeno “eu”…

Quem sou eu?
Efémera e nula numa sociedade;
Se desfrutar da sorte a comandar a minha vida, transformarei este segundo verbo no oposto, mas o primeiro não…

Quem sou eu?
“Insolitamente Complicada” para muitos e “Simplesmente Diferente” para outros; A minha opinião é indiferente, pois considero-me longe do que para muitos sou…

Quem sou eu?
Só saberei responder a esta pergunta, quando me deparar com a resposta de uma mais importante: “Afinal eu sou o quê?”…

Quem sou eu?
Se conseguisse responder a esta indagação;
Obviamente já tinha colocado a minha opinião…

Quem sou eu?
Titubeantemente, apenas uma mera ilusão.

Dedicado a: Professora Susana (Magestil)

razão e coração

Se querem saber, somos assim.
Efémeros corpos com um trono na cabeça, uma mente, uma razão.
Efémeros corpos com um lugar para os corações que batem ritmadamente até um dia pararem, ou quando acabarem o que têm de bater.

Começam por bater calmamente, discretamente dentro do corpo; incultos do saber e afastados da razão.
É fácil definir o coração, pois é sobretudo o maior inimigo da razão.
Razão intelectualizada, que faz distinções e elege pódios conforme as definições e as aparências abstractas.
Dificilmente conseguimos conciliar duas coisas tão distintas.

Inconscientemente, o ritmo começa a ser assimétrico e por vezes não acompanha a nossa mente. Fica descontrolado, emaranhado num mar de emoções e sentimentos entrelaçados numa alma tão pequena.
Nessa altura quem manda é o coração.
Afasta a razão do trono, e começa a dar ordens.
Ordena à cegueira, ao nervosismo, aos sonhos, às sensações descontroladas e chocantes.
Elimina as dúvidas da nossa mente, aspira os pontos interrogações do pensamento e envolve-nos num paraíso intenso por qual ansiamos nunca sair.

De súbito, vai deixando de bater e o imenso colorido e a ofegante alegria, caiem como uma chuvada de lágrimas e transformam-se num céu negro e frio, triste e absolutamente só.
É ai que a razão, emigrante da sua cela, reaparece caridosa, pronta para montar o puzzle da nossa vida.
Rodeada de palavras e citações, organiza a nossa mente e tenta manter firme o pódio deixado pelo que ainda resta do nosso derrotado coração.
Pesa as virtudes e os defeitos, mede cada centímetro da tristeza e aos poucos vai colorindo em tom de degrade, o negro céu da nossa vida.

Volta a simples rotina do bater, vulgar e normal, numa vida reconstruída e diferente.
O exame pesa e apresenta resultados.
O batimento cardíaco oscilou e quase desmoronou, e a razão manteve-se intacta, por vezes mais afastada mas conseguiu manter-se erguida.
Mas não tirando conclusões precipitadas, pois os resultados também podem ser enganosos, temos de ter em conta que se nos deixarmos dominar pela razão e arrefecermos o que temos a palpitar dentro de nós, podemos não assistir ao maior grau de imensidade da nossa vida. Apressem-se em distinguir, mas não se deixem redimir.

Dedicado a: Renato Pereira

viver

normalidade cientifica ou anormalidade especifica
do ser que não sou?
apanhada desprevenida na armadilha da vida?
quero sair e não consigo.
não tenho medo do que vem mas sim do que é e está.
terei de esperar para poder escapar ou apenas deixar de pensar?
sei que nao é na minha época que isto renovará.
mas nao escolho nenhuma opção.
prefiro esperar com os sentidos encobertos
para nao ter a tentaçao de desmoronar.
quem nasce com mais do que corpo parece nunca mais viver,
desde o dia em que percebeu onde está,
no primeiro dia em que começou a pensar e a tentar sobreviver.

Dedicado a: Avó Noélia